Escolhemos o ativista político Paul Lafargue (1842-1922) como o próximo convidado da série Entrevistas Que Gostaríamos de Ler. Ele screveu, em 1880, um livro chamado O Direito à Preguiça. E, mesmo que já tenha mais de um século de idade, esta obra tem uma estranha atualidade. Que era genro de Marx, isso não vem ao caso. Lafargue tinha que ser francês, claro, para quem o ócio é uma virtude a ser perseguida. Seu livro foi uma resposta a um outro que proclamava o Direito ao Trabalho.
Monsieur Lafargue, seu livro Direito à Preguiça foi como resposta a um outro que proclamava o direito ao trabalho. Isso nos leva a crer que o senhor não aprecia muito o trabalho. É isso mesmo?
Certamente. A nossa época é, dizem, o século do trabalho; de fato, é o século da dor, da miséria e da corrupção. O trabalho é o mais terrível flagelo que já atacou a humanidade. Entretanto, muitos são viciados nele.
Sim! É aí que reside o problema. A paixão cega, perversa e homicida pelo trabalho transforma a máquina libertadora em instrumento de sujeição dos homens livres: a sua produtividade empobrece-os. Como assim?
Consideremos a Revolução Industrial – introduzam o trabalho de fábrica e adeus alegria, saúde, liberdade; adeus a tudo o que fez a vida bela e digna de ser vivida. Então é mais proveitoso viver no ócio?
Sim, visto que o trabalho é a causa de toda a degenerescência intelectual, de toda a deformação orgânica. Comparem o puro-sangue das cavalariças de Rothschild, servidos por uma criadagem de bímanos, com a pesada besta das quintas normandas que lavra a terra, carrega o estrume, que põe no celeiro a colheita dos cereais. Hmmm…
Os filósofos da Antiguidade, por exemplo, ensinavam o desprezo pelo trabalho, essa degradação do homem livre; os poetas cantavam a preguiça, esse presente dos Deuses. Além disso, há um provérbio espanhol que diz: “Descansar es salud”, ou seja, “Descansar é saúde”.
Concordo plenamente. Agora, muitos alegam que o trabalho é essencial na construção do caráter e que Deus protege os trabalhadores. Deus protege os trabalhadores?! Ora essa, pobre Deus, que bobagem lhe atribuem! Deus, o velho barbudo e rebarbativo, deu aos seus adoradores o exemplo supremo da preguiça ideal; depois de seis dias de trabalho, repousou para a eternidade.
Quais seriam, Monsieur Lafargue, os direitos da preguiça?
Os direitos da preguiça são milhares de vezes mais nobres e sagrados do que os tísicos Direitos do Homem; que sejam proclamados! Que as pessoas se obriguem a trabalhar apenas três horas por dia, a mandriar e a andar no regabofe o resto do dia e da noite! Devemos ser preguiçosos o tempo inteiro?
Sejamos preguiçosos todo o tempo e em tudo, exceto em amar e em beber, exceto em sermos preguiçosos.
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